“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.” (Paulo Freire)
Paulo Freire é a nossa inspiração como educadores, pois assim como ele entendemos que conscientizar os sujeitos é a nossa missão. Como já dizia o Velhinho (Freire), apenas um sujeito consciente é capaz de agir no mundo para transforma-lo.
Somos contra todo tipo de doutrinação. Venha ela das direitas, que trabalham pela manutenção das condições injustas em que vivemos, venha ela das esquerdas que tentam impor uma visão única de mundo. Não estamos comprometidos com nenhuma causa e entendemos que o papel do professor é orientar o educando para que ele mesmo faça as suas escolhas. Nossa missão deve ser apontar as opções e deixar o aluno livre para decidir. Esse também deve ser o limite da nossa ação.
Cabe ainda ressaltar que não somos os donos da Verdade e que, aliás, nós nem mesmo sabemos onde é que essa tal Verdade está. Damos alguns palpites, apontamos para algumas direções onde se poderá encontra-la e acreditamos que a nossa ciência, a História, poderá ser uma boa conselheira para indicar esse rumo, mas reafirmamos: não temos certeza de nada, somente dúvidas dúvidas sobre tudo.
Sobre a nossa ciência, a História, não acreditamos que o passado guie o presente ou que ela seja um ciclo que fatalmente se repete, mas defendemos que conhece-la nos permite compreender o nosso tempo e prever para onde as nossas decisões nos levarão. Aquilo que decidimos agora, no presente. Cada sujeito deve ter clareza do que realmente quer e saber qual é o seu lugar nesse mundo: onde está e onde quer chegar. Um sujeito consciente sempre irá planejar o seu rumo, pois, se não for desse jeito, a gente vai ter o que o gato risonho da Alice dizia: pra quem não sabe onde vai, qualquer caminho serve. Todos os caminhos levam pra algum lugar, mas aquele que é consciente não deixará que o destino seja traçado ao acaso. É para compreender o nosso tempo e decidir como intervir nele para alcançar o futuro que a gente quer que se estuda a História.
Mais uma vez reforçamos: nós não somos os guias, somos apenas companheiros, acompanhantes. Não temos a “certeza” de onde realmente queremos chegar. Sabemos muito pouco. Estamos cheios de dúvidas, mas caminhamos juntos com os nossos alunos e compartilhamos um pouco daquele pouco que sabemos e ao longo da caminhada vamos aprendendo muito. Muito mais do que ensinamos. Nossos educandos e as pessoas que cruzam pelo nosso caminho são os nossos mestres. É com eles que aprendemos. São eles que nos completam. São eles que nos fazem “gente”, pois como o Velhinho dizia, a incompletude é da natureza humana. Nós humanos jamais estaremos “completos” (prontos). Sempre haverá algo para aprender. Todos têm alguma para ensinar. Essa é a essência do pensamento de Freire e essa é a ideia que pauta a nossa atuação de docentes. É justamente sobre isso que fala o fragmento do texto com o qual iniciamos essa página.
Queremos esclarecer também, que na nossa opinião o Conhecimento não é um dado a priori, uma coisa já pronta, acabada e imutável. Para nós, o Conhecimento é o fruto de uma construção. Assim como Freire, defendemos que o Conhecimento se constrói na interação entre os sujeitos (no diálogo). O Conhecimento não sai da cabeça do professor “sabichão” para entrar na do aluno ignorante. O Conhecimento se produz no espaço de troca entre esses dois. É no diálogo entre o professor e o aluno que o Conhecimento realmente é produzido. É nesse diálogo que os sujeitos (ambos os dois) aprendem, se aprimoram e se completam.
Ainda falando sobre o sentido do Conhecimento e da Educação, entendemos que o propósito último da Educação é transformar os sujeitos. O Conhecimento não pode simplesmente se acumular na cabeça do estudante e permanecer lá inerte, inativo e sem propósito. Isso é o que Freire chamava de educação bancária: uma decoreba inútil e despropositada. Uma coisa que gente põe (deposita) e depois tira (saca) e que no final sempre o resultado é zero. O Conhecimento e a Educação pra valer tem de estar relacionado com a vida, tem qualificar, tem mexer, tem convidar a ação, tem que retirar da imobilidade, em uma só palavra: o conhecimento tem que transformar. Do que vale aprender se tudo vai permanecer igual no final? Se nada muda? Se gente não muda? Só faz sentido aprender se for pra transformar. Uma Educação para ser efetiva tem que ser transformadora, tem que ser significativa e tem que ser integral. Só vale a pena aprender se for para isso. Só vale ensinar se for para isso.
Essa é a síntese do que pensamos e essa é a Educação que professamos. A nossa proposta é tornar os educandos conscientes para que eles se transformem e uma vez transformados queiram também transformar o mundo. Há muito a ser feito. Tem coisas erradas demais nesse “mundão”. Vamos consertar pelo menos um pouco disso tudo que está errado. Nossos pais e avós já fizeram a parte deles. Eles nos deixaram de herança um mundo muito melhor que aquele que eles receberam. Vamos tomar esse exemplo e vamos continuar a melhorar esse mundão. Vamos deixar aos nossos filhos e netos um mundo melhor que aquele que nós recebemos.